Você é ou está gestor?
Escrito por Júlio Furtado
A situação é perigosa porque, ao negar o próprio poder por meio da afirmação de que não “é”, mas apenas “está”, é frequente a atitude de pedir colaboração das pessoas como consequência de um relacionamento horizontal, no qual todos são iguais. Ouvi, certa vez, uma gestora pedagógica dizer em reunião com seus professores: “Preciso que colaborem comigo! Por favor, entreguem os planejamentos anuais até sexta-feira próxima. A data de entrega foi dia 10 e só recebi dois planejamentos na data”. É arriscado usar o verbo colaborar no contexto da gestão, pois ele contém certo teor de troca. Colaboramos ou por consideração a quem nos pede auxílio ou com a expectativa de receber algo em troca. As duas possibilidades são nocivas à gestão. Obter a colaboração das pessoas por causa de um vínculo pessoal pode funcionar, mas faz com que o gestor se preocupe em sempre manter-se essa pessoa com a qual todos colaboram. O que fazer diante de uma decisão impopular ou que não favorecerá a todos? Pelo que observamos em nossos cursos e consultorias, uma atitude bastante frequente é o gestor buscar uma forma de se isentar da decisão: “Veio ordem lá de cima”, “não posso fazer nada. Embora não concorde, tenho que fazer isso”, “vou ver o que posso fazer para compensar isso, ok?”. Assumir a decisão impopular significa não mais ser uma pessoa bacana, digna de que colaborem com ela.
A liderança do gestor deve ser alimentada pelo compromisso com a causa. Ao mostrar aos liderados um alto nível de comprometimento com as decisões e os objetivos, além de firmeza e segurança para decidir em função da causa, o gestor dá o tom da atitude que todos precisam ter com a escola. Nesse contexto, é possível dizer não ou tomar atitudes não muito populares, que ficam resguardadas pelo compromisso com a causa. “Não podemos adiar a data de entrega dos modelos porque isso afetaria o bom andamento das provas e, como sabemos, não podemos admitir nada que prejudique esse processo”. Uma resposta como essa comunica claramente que nada que vá ferir o bom andamento da escola será admitido. Dessa forma, as atitudes das pessoas passam a ser balizadas por esse princípio. Ninguém se surpreenderá, por exemplo, ao ter seu pedido de mudança de horário em função de um problema particular negado sob o argumento de que isso desestruturará toda a escola.
Enquanto ocupamos o cargo de gestor, “somos” gestores. Isso não significa que deixamos de ser professores ou pedagogos. Significa que somos o cargo que ocupamos e que, dessa forma, temos que mergulhar inteiros na escolha que fizemos e assumir todas as consequências dela advindas.
Fonte: http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/julio-furtado/1039-voce-e-ou-esta-gestor
acessado em 20/10/2015
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