terça-feira, 20 de outubro de 2015

Você é ou está gestor?

Uma expressão que ouço bastante de gestores escolares é a de que eles não “são” gestores, mas apenas “estão” gestores. Essa afirmativa parece ser uma tentativa de aproximação com os liderados em um contexto em que não “sendo” gestores, tornam-se todos iguais, nada os diferencia ou separa. Essa situação é complicada e perigosa. Complicada porque, ao mesmo tempo que afirmam não “ser”, precisam agir como se fossem, afinal são os maiores responsáveis pelos processos. Se algo sair errado, todos serão igualmente responsabilizados? Parece óbvio que não. Eis uma prova contundente de que não são iguais. O gestor tem a maior responsabilidade, logo, dizer que não “é”, mas apenas “está”, não o isenta dela. A situação é igualmente complicada porque, no fundo, todos os liderados percebem e sabem que eles e os líderes não estão no mesmo patamar. Diante do não funcionamento de algum processo ou de um resultado não alcançado, os liderados olham todos na direção do gestor, aguardando quais serão os próximos passos. O poder é inerente ao exercício da gestão e, dessa forma, não pode ser negado.
A situação é perigosa porque, ao negar o próprio poder por meio da afirmação de que não “é”, mas apenas “está”, é frequente a atitude de pedir colaboração das pessoas como consequência de um relacionamento horizontal, no qual todos são iguais. Ouvi, certa vez, uma gestora pedagógica dizer em reunião com seus professores: “Preciso que colaborem comigo! Por favor, entreguem os planejamentos anuais até sexta-feira próxima. A data de entrega foi dia 10 e só recebi dois planejamentos na data”É arriscado usar o verbo colaborar no contexto da gestão, pois ele contém certo teor de troca. Colaboramos ou por consideração a quem nos pede auxílio ou com a expectativa de receber algo em troca. As duas possibilidades são nocivas à gestão. Obter a colaboração das pessoas por causa de um vínculo pessoal pode funcionar, mas faz com que o gestor se preocupe em sempre manter-se essa pessoa com a qual todos colaboram. O que fazer diante de uma decisão impopular ou que não favorecerá a todos? Pelo que observamos em nossos cursos e consultorias, uma atitude bastante frequente é o gestor buscar uma forma de se isentar da decisão: “Veio ordem lá de cima”, “não posso fazer nada. Embora não concorde, tenho que fazer isso”, “vou ver o que posso fazer para compensar isso, ok?”. Assumir a decisão impopular significa não mais ser uma pessoa bacana, digna de que colaborem com ela.
A liderança do gestor deve ser alimentada pelo compromisso com a causa. Ao mostrar aos liderados um alto nível de comprometimento com as decisões e os objetivos, além de firmeza e segurança para decidir em função da causa, o gestor dá o tom da atitude que todos precisam ter com a escola. Nesse contexto, é possível dizer não ou tomar atitudes não muito populares, que ficam resguardadas pelo compromisso com a causa. “Não podemos adiar a data de entrega dos modelos porque isso afetaria o bom andamento das provas e, como sabemos, não podemos admitir nada que prejudique esse processo”. Uma resposta como essa comunica claramente que nada que vá ferir o bom andamento da escola será admitido. Dessa forma, as atitudes das pessoas passam a ser balizadas por esse princípio. Ninguém se surpreenderá, por exemplo, ao ter seu pedido de mudança de horário em função de um problema particular negado sob o argumento de que isso desestruturará toda a escola.
Enquanto ocupamos o cargo de gestor, “somos” gestores. Isso não significa que deixamos de ser professores ou pedagogos. Significa que somos o cargo que ocupamos e que, dessa forma, temos que mergulhar inteiros na escolha que fizemos e assumir todas as consequências dela advindas.

Fonte: http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/julio-furtado/1039-voce-e-ou-esta-gestor
acessado em 20/10/2015

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