quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Os desafios da gestão escolar na Era do Conhecimento

É difícil não concordar que o mundo (pelo menos aquele composto pelos países industrializados) atualmente funciona sob uma nova lógica conhecida como Era do Conhecimento. Para operar bem nesse novo contexto, ao contrário do que somos levados a acreditar, não basta saber deslizar os dedos por uma tela interativa. O que conta nessa nova fase da humanidade é a capacidade de usar o próprio cérebro para processar uma quantidade cada vez maior de informações, parâmetros e lógicas diferentes, muitas vezes até conflitantes. É a fase do homo uber sapiens. Quem achar que a chave do conhecimento reside, senso estrito, na habilidade digital na tela de um tablet, corre o sério risco de ser substituído por um.
Para usar o cérebro no processamento de conhecimento adquirido e, com isso, produzir novas ideias, solucionar problemas cada vez mais complexos e deixar um legado mínimo no mundo e também para subir na vida, primeiramente é preciso ter um que funcione. E muito bem. Isso significa que, desde a mais tenra idade, esse órgão deve ser corretamente estimulado para criar um sistema competente de sinapses juntamente com um arcabouço emocional que trabalhe a favor da sua permanente provocação.
A segunda parte da equação é o conhecimento em si, pois seus componentes precisam estar no cérebro para que este possa processá-los. Portanto, é preciso também desde cedo acumular na caixola não só quantidades industriais de informações variadas, mas aprender a relacioná-las e reformulá-las utilizando lógicas e linguagens igualmente variadas, como a matemática, a física, a biologia, a literatura e a arte.
Sorte de quem tem uma boa escola para proporcionar, em um estágio precoce da vida e de maneira estruturada, as duas oportunidades: aprender a usar o cérebro e acumular elementos de conhecimento com diferentes formas de empregá-lo. Este então é o desafio das escolas do Brasil na Era do Conhecimento: fazer com que os alunos percebam que têm massa cinzenta entre suas orelhas, que ela precisa ser estimulada para não atrofiar e lhes oferecer experiências de aprendizado convincentes de que vale a pena turbinar essa parte do corpo acima de todas as demais.
Quem escolhe os desafios de cada instituição e desenha as formas de vencê-los são os gestores. Assim, não importa se o gestor é o ministro da Educação, o secretário Estadual de Educação ou o diretor de Escola, pública ou privada. Daqui para frente, todo gestor da área de educação no Brasil precisará buscar metas de aprendizagem muito mais ambiciosas para seus alunos e implementar operações escolares com altos padrões de eficácia e eficiência.
De onde tirar as metas altas? Não dá tempo de reinventar a roda ou de plantar jabuticabas, vamos aprender com quem já fez. Mais uma vez, sem surpresas, vamos aos países industrializados, pelo menos aqueles que têm conseguido fazer a maioria de seus alunos operar em expectativas cognitivas mais gulosas: Austrália, Canadá, Portugal e Cingapura, por exemplo.
Depois, os gestores terão de garantir que os professores estarão aptos a materializar essas metas em salas de aula. Podemos achar que dar tablets para os alunos e nos livrar dos incômodos intermediários é uma boa ideia, mas prefiro deixar os gestores pensarem por cinco minutos.
Há alunos que precisarão de apoio extra dentro e até fora da escola, é essencial reconhecer isso para não desperdiçar cérebros ou deixá-los florescer no “lado negro” da força. O apoio tanto pode ser algumas horas de tutoria, com uma merenda reforçada, como um assistente social para apoiar a família. Tanto faz. Está na hora de reconhecer que as escolas não operam sozinhas. Obviamente que metas para além do ordinário dependem de condições de ensino e materiais de apoio de acordo. É preciso prever não só o orçamento, mas a logística que garanta cada item no lugar certo e na hora certa.
Fazer tudo isso funcionar dá quase o mesmo trabalho que cada ministro, secretário e diretor já estão dispostos a enfrentar hoje. A questão é a vontade política para exigir mais dos professores, dos alunos e da própria sociedade. Para esse desafio é que não sei se estamos prontos.

Fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/ilona-becskehazy/1213-os-desafios-da-gestao-escolar-na-era-do-conhecimento
acessado em 22/10/2015

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