terça-feira, 20 de outubro de 2015

Lição de cada dia

Segundo o professor, todas as escolas devem ter clareza de aonde querem chegar, o que se materializa na construção do projeto político-pedagógico. “Tudo o que se faz em função desse projeto reflete no aprendizado. Não se trata de um plano estático de ações, mas de uma proposta compartilhada e regada por todos. O acompanhamento dos resultados apresentados pelos alunos no dia a dia gera diagnósticos que servem para indicar um norte para ajustes pedagógicos”, ressalta o coordenador. E completa: “esperta é a equipe que transforma esses resultados em metas, pois, sem elas, as ações ficam aleatórias e as soluções não são aceleradas”.
Conti ainda orienta que as metas devem ser compartilhadas. “Quando as metas nos são alheias, isto é, quando não temos compromisso moral com elas, dificilmente nos empenhamos em cumpri-las e, às vezes, até boicotamos as ações voltadas para elas. Valores, objetivos e metas têm que estar, sim, no papel, mas, acima de tudo, na cabeça e no coração das pessoas”, acredita. Sempre de olho no aprendizado, o projeto pedagógico orienta, inclusive, tarefas cotidianas, como a escolha dos recursos a ser usados em sala. As escolas, diz o especialista, precisam de bons prédios, materiais pedagógicos adequados e professores bem formados e motivados, mas nem sempre uma escola com as melhores condições apresenta bons resultados em termos de ensino e aprendizagem. Ele alerta para o uso indiscriminado de itens que se apresentam como fundamentais. “O que é bom para uma escola pode não ter relevância para outra, e isso tem que ser bem pensado. Comprar uma TV de quarenta e tantas polegadas vai servir para quê? A que projeto pedagógico ela serve? As aparências, as urgências do dia a dia podem ofuscar nossa capacidade de discernimento, porque o projeto educativo não está devidamente pactuado e claramente posto, dificultando a capacidade de decisão”, diz.
Quando não se aprende
Por vezes, o aluno não está aprendendo. O aprendizado não é linear entre as turmas de alunos e, por isso, as médias são indicadores gerais e não particulares. De acordo com Conti, é preciso tratar com cuidado os estudantes que não conseguem aprender no ritmo da turma. Dentro da estrutura da escola, devem-se coordenar ações de reforço adequadas a cada caso. Alguns alunos vão gostar mais de aulas de reforço coletivas, nas quais o conteúdo é revisto detalhadamente; outros, das monitorias individuais dadas por professores em horários alternativos; e outros, ainda, de aprender de forma mais prática em laboratórios, quando o assunto permitir.
De todo modo, Conti afirma que esses alunos não devem, jamais, ser vistos como fracassados. “Entra aí algo que parece metafísico, mas que deve ser real e traduzido em ações: a crença em pessoas. Acreditar na capacidade do aprendizado de todos os alunos, nos professores e na escola como espaço para tal”, enfatiza. Ele cita estudos que tentam explicar o sucesso de algumas escolas com recursos precários e alunos de classes sociais baixas. Em todas, havia um espírito de confiança e solidariedade, sobretudo por parte dos professores, que apostaram em si e em seus alunos. “Acreditar no outro empurra todos para frente; desacreditar bloqueia as boas ações coletivas, o que resulta também em descrença individual”, alerta.
É preciso observar ainda que, às vezes, os resultados negativos no aprendizado não têm relação só com estratégias inadequadas de ensino. “O diagnóstico tem que ser mais completo, porque as coisas passam por caminhos que não imaginamos. Por exemplo, o clima da escola e sua cultura organizacional podem muito bem favorecer a desconfiança, a descrença, a falta de entusiasmo, o desalento; isso tudo joga contra uma escola que dá certo, que mostra resultados”, exemplifica o professor.
Avaliação
A especialista em Educação, Paula Louzano, concorda com Conti. Ela tem voltado sua atuação para a temática das avaliações e cita pesquisas que mostram que as notas são reflexo de duas variáveis. Uma delas é a escola, claro. A outra é o ambiente externo no qual a criança cresceu e vive, ou seja, a família, os grupos e os entornos que ela frequenta. “Quando você compara o rendimento acadêmico de duas crianças de uma mesma escola, por exemplo, o responsável pelo resultado é mais a família do que a escola. Estamos dizendo isso para marcar que o papel da escola é limitado. Ela não é a única responsável”, frisa.
Quando o assunto são as avaliações nacionais, como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), a Prova Brasil e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Paula lembra que elas dão boas pistas, mas devem ser vistas pelos gestores com cautela. Tanto a sistematização dessas avaliações quanto a assimilação de seus resultados pelas escolas, muitas vezes associados ao sucesso escolar, são recentes no Brasil. No entanto, como se trata de aprendizado entendido como a capacidade de adquirir conhecimento, instruir-se, é necessário ser crítico. Paula explica que as avaliações externas devem ser entendidas como fotografias de um conjunto de alunos em dado momento. Medem como está o Brasil em determinado quesito, mas não fazem medições em dois momentos, o que significa que não é exatamente a qualidade da escola que está sendo julgada. “Não se vê o valor que a escola está agregando com uma avaliação só”, alerta a especialista.
Ela sugere que todas as escolas tenham um bom sistema de avaliação interna, capaz de realmente monitorar o aprendizado em diferentes momentos. “A avaliação não precisa de muitos recursos, o mais importante são os professores. Mas ela [a avaliação] deve ser compatível com o perfil da escola. Por exemplo, se a escola valoriza as Artes, a escrita de textos e a oralidade, não é coerente uma avaliação só de múltipla escolha”, orienta. Paula reforça a importância de a escola assumir sua vocação também na hora de avaliar o sucesso do aprendizado. “Mesmo avaliações internacionais, como o Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, em tradução livre], dão peso maior ao conhecimento da Linguagem e da Matemática, reflexo do que se acredita que o mercado valoriza. Então, as escolas devem investir nessas áreas, sim, mas não é por não ser tão valorizado que ela vai deixar de investir nesse ‘outro’, o que faz sempre lembrar, a respeito do aprendizado, que quem é bom em uma área pode não ser o melhor em outra”, considera.
Gerindo o aprendizado
Sugestões para o gestor:
Abrangência: O trabalho do diretor não pode restringir-se aos assuntos burocráticos e cotidianos da escola nem aos “trabalhos de gabinete” para atender a professores ou alunos. O trabalho deve ser o mais abrangente possível e integrado com o de outras funções dentro da escola.
Formação: Gerir uma escola é se preocupar sempre com a formação continuada de professores e demais membros do corpo escolar, estimulando a equipe e buscando oportunidades.
Metas: Essenciais para o bom fluxo do trabalho, elas devem ser exequíveis e realistas. Do contrário, ficarão apenas no papel.
Abertura: É comum a coordenação pedagógica e a direção atuarem em campos diferentes, quais sejam, o pedagógico e o administrativo. No entanto, a divisão de tarefas não deve funcionar como uma cerca. Quanto mais abertura houver nas decisões e nos planos, melhor para o engajamento geral no sentido das ações.
Fonte: Professor Celso Conti
Fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/especiais/sucesso-escolar/549-licao-de-cada-dia
acessado em 20/10/2015

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