segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Avaliando os avaliadores

O ato de avaliar os estudantes está plenamente enraizado na estrutura da escola. Independentemente da idade do aluno, ele estará sujeito a algum tipo de avaliação: tarefas para casa, testes, trabalhos, provas etc. No entanto, tendo em vista uma instituição de ensino bem-sucedida, os estudantes não são os únicos que devem ser avaliados. Segundo especialistas, é preciso também examinar o desempenho dos educadores, mas não sem ter um modelo de avaliação bem definido e que conte com o apoio dos próprios professores. “A avaliação dos professores sempre foi importante e, agora, além disso, as pessoas estão se dando conta dessa importância. Como em tudo, há diversas perspectivas [sobre o tema], mas eu dividiria tudo em duas vertentes: uma que visa avaliar os professores para prestação de contas do trabalho que está sendo desenvolvido na escola e outra, que é a da avaliação dos professores para a melhoria de seu desempenho e de seu desenvolvimento pessoal e profissional, que também tem uma dimensão de prestação de contas”, afirma Alexandre Ventura, especialista em Avaliação Escolar e professor da Universidade de Aveiro, em Portugal, que esteve em Curitiba para participar do II Fórum Internacional de Gestão, Liderança e Competências em educação.
“O enfoque essencial é que, por meio da avaliação dos professores, exista uma oportunidade deles refletirem sobre e melhorarem sua prática, centrados na qualidade da aprendizagem dos alunos. Portanto, o professor precisa fazer uma autorreflexão da qualidade daquilo que ele faz, como ele faz e do impacto que seu trabalho tem na melhoria da qualidade da aprendizagem dos alunos e, em virtude disso, promover melhorias em seu próprio desempenho”, complementa Ventura.
Para Sônia Ana Leszczynski, chefe do departamento de Educação da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), “avaliar os professores é uma forma defeedback de nossos clientes (os alunos), de como eles vêm sendo tratados em sala de aula, de como ocorre a interação entre professores e alunos etc. A percepção do quadro discente é fundamental para verificar como ocorre o processo ensino-aprendizagem, que, se tratado como processo, todos os atores são fundamentais para que a engrenagem funcione de forma harmônica”. A UTFPR desenvolve, há mais de 25 anos, um modelo de avaliação do corpo docente em que os próprios alunos examinam o desempenho dos professores (Veja no box os tópicos abordados na avaliação).
Assim como em qualquer avaliação, existe o risco de os professores rejeitarem ou oferecerem resistência à ideia de uma avaliação docente – algo que, segundo Ventura, é inerente ao conceito de avaliar. “Estranho seria se não ocorresse nenhum tipo de resistência mais ostensiva por parte dos professores, quando são envolvidos como parte de um processo de avaliação. Isso é normal, não é algo exclusivo dos professores, pois acontece com qualquer tipo de profissional. Possivelmente, no caso dos professores, que estão habituados a avaliar outros, esse sentimento assuma uma raiz mais profunda, pois são pessoas que já incorporaram em sua prática cotidiana a avaliação de outros, mas não estão habituadas elas próprias a ser avaliadas”, diz o pesquisador português. A professora brasileira confirma a opinião de Ventura e afirma que “uma parcela dos docentes não gosta de ser avaliada e tem receio das respostas abertas dos discentes. No entanto, outros encaram como uma forma de avaliação do seu trabalho e olham com muito carinho para o resultado em relação às notas atribuídas, bem como aos comentários gerais apresentados”.
O bom resultado de uma avaliação docente reside na confiança que os professores têm no modelo da prova que é aplicada. “Um modelo de avaliação tende a ser mais bem aceito pelos professores de determinado sistema de ensino, desde que se consiga instilar neles a confiança na bondade desse sistema de avaliação. No que se traduz essa tal bondade? É os professores terem uma representação positiva sobre o modelo da avaliação, sobre a qualidade técnica e científica do modelo, mas, antes disso, é acreditarem que a intenção desse modelo é contribuir para a qualidade do seu desempenho e, a partir disso, contribuir para a melhoria da qualidade dos resultados acadêmicos e do desempenho dos alunos”, explica Ventura.
Mudanças pós-avaliação
E o que fazer com os resultados obtidos pelas avaliações? Para Sônia, é preciso analisar as informações com cautela para promover eventuais mudanças. “[É preciso] observar os aspectos gerais comentados pelos discentes, pois esses temas podem servir de referência para palestras, oficinas ou cursos para a semana de planejamento e/ou ao longo do semestre letivo. Observe os principais bolsões de notas e apresente uma proposta de trabalho para os docentes por curso, departamento e/ou individualmente”, aconselha a especialista da UTFPR.
No caso da instituição paranaense, Sônia ainda revela que, muitas vezes, os professores da universidade realizam mudanças em suas práticas por iniciativa própria. “Alguns docentes entendem a proposta apresentada pelos setores e, por si próprios, mudam de comportamento ou iniciam novos métodos e técnicas de ensino”, revela a educadora.

Matéria publicada na edição de dezembro de 2013.
Fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/especiais/sucesso-escolar/580-avaliando-os-avaliadores
Acessada em 05/10/2015

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