quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Escola 3.0 não é só tecnologia

O tema Educação 3.0, bastante comentado atualmente, reporta de uma forma ou outra à necessidade de uma escola 3.0. Embora muito explorada do ponto de vista pedagógico, a introdução das novas tecnologias digitais nas salas de aula não se resume a isso. O conceito vai muito além de espalhar pelas salas computadores e tablets, lousas eletrônicas e de realidade virtual. Para que seja efetiva, a escola 3.0 precisa, antes de tudo, de profissionais qualificados, que lidem com as tecnologias de maneira natural, e, principalmente, de infraestrutura e gestão adequadas.
Algumas das práticas da escola tradicional estão, de fato, emperrando a ideia de Educação 3.0. Isso porque partem de premissas completamente diferentes. Para que a efetividade da Educação 3.0 se faça sentir nas salas de aula, é importante sanear o ambiente educativo e o modelo de gestão educacional vigentes, implantando instrumental diferente daquele que hoje vigora. Vejamos algumas dificuldades que emperram o processo.
A primeira delas se relaciona ao ambiente físico. Nada mais de laboratórios de informática, carteiras em linha e lugares marcados. As novas tecnologias e o uso eficiente delas no conceito de Educação 3.0 pressupõem um espaço dinâmico, que propicie trabalhos em equipe e trocas de experiências entre os alunos. Essa troca se dá tanto de forma presencial quanto virtual. Trocar experiências nas salas de aula e aprender em qualquer lugar. Daí o pressuposto de que os alunos, assim como os professores, possam se utilizar de seus próprios dispositivos digitais, como os smartphones pessoais.
O viés de aprendizagem coletiva introduz a necessidade de uma rede integrada como espaço de troca, física e virtual, contando com a participação de todos os agentes envolvidos com o processo educativo, incluindo as famílias. A aprendizagem colaborativa é um dos pilares da Educação 3.0 e isso envolve, de maneira efetiva, outros agentes além daqueles que hoje se apresentam. Cabe à escola 3.0 prover o ambiente para que tudo aquilo que seja criado por meio dessa interação seja também preservado, por isso a necessidade de estruturas mais abertas e do uso de ferramentas digitais, como as redes sociais privadas, as quais vêm ganhando cada vez mais espaço no arsenal das escolas. Se antes os portais educacionais eram o diferencial, agora as redes sociais privadas aparecem como as vedetes. Aprendizagem colaborativa e plataformas de colaboração são premissas indispensáveis a essa nova maneira de aprender.
Essa dinâmica, por sua vez, insere no contexto educacional a premissa de que a aprendizagem não se restringe mais aos limites da escola. Aprender é algo que se faz em todos os lugares, o tempo todo. A diferença é a existência, ou não, de um agente mediador. É aí que entra a escola. Ela deve ser o elo e, para isso, precisa estender seus domínios. Para tanto, deve viabilizar a maior disponibilidade dos professores e tutores para atender às demandas dos alunos. O papel de provedor de conhecimento do antigo professor perde lugar para o orientador de aprendizagem. Mas toda essa disponibilidade esbarra no entendimento dessa nova realidade, por parte dos professores, e nos arcaicos modelos de relações de trabalho entre escola e profissionais. Convenções coletivas e contratos de trabalho, baseados em horas-aula, são verdadeiras camisas de forças. As relações trabalhistas e a legislação precisam urgentemente ser atualizadas para o contexto, de maneira que todos os participantes do processo sejam beneficiados. Contratos em tempo integral precisam ser introduzidos no segmento, em substituição ao conceito de horas-aulas. No seu tempo de trabalho, o professor não apenas estará em sala de aula (horas-aula), mas também envolvido com atividades variadas, como projetos, pesquisa, planejamento, interação com alunos, comunidade, pares e agentes diversos. Em resumo, uma jornada em que “dar aula” é apenas parte do processo.
Esse novo perfil também vai ampliar a necessidade de novas competências por parte dos professores, que também precisarão desenvolver habilidades em gestão de projetos, comunicação, trato com mídias e tecnologia. Também vai demandar trabalho em equipe, com professores, alunos, famílias e outros agentes da comunidade. O manejo da turma e a capacidade de inspirar serão habilidades tão ou mais importantes quanto o próprio conhecimento específico da disciplina.
Outro fator limitador à introdução do conceito de escola 3.0 é que ela precisa de espaços abertos, em que se possam juntar turmas inteiras em torno de projetos específicos, geralmente voltados para solução de problemas da própria comunidade do entorno. E, nesse particular, “turmas inteiras” não se restringem apenas à determinada série. Pressupostos como divisão dos alunos por idade e salas limitadas por paredes fixas caem por terra. A nova escola deve oferecer espaços multiuso e flexíveis, nos quais alunos de séries diferentes aprendem uns com os outros, com a ajuda de mais de um professor, simultaneamente. E, embora juntos, os alunos serão avaliados individualmente. Seu desempenho deverá ser monitorado em tempo real, tanto na escola quanto fora dela, por meio de redes privadas e plataformas de aprendizagem e avaliação virtuais. Tal situação demanda, portanto, infraestrutura e introdução de novos conceitos de gestão e docência.
Como se viu apenas pelos poucos pontos abordados, a Educação 3.0 não é apenas uma questão de tecnologia. É um conceito muito mais amplo e que demanda um projeto consistente na gestão da escola e na preparação de seus agentes. Além disso, uma escola 3.0 precisa abrir e expandir suas fronteiras para além de seus muros, não permitindo achar-se o repositório do conhecimento, mas sim o lugar mais gostoso e divertido para se aprender coisas novas.

Fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/marcelo-freitas/1140-escola-3-0-nao-e-so-tecnologia
acessado em 22/10/2015

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