quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Pátria educadora. Onde mesmo?

Nos primeiros meses deste ano, três notícias sobre educação me deixaram particularmente satisfeito. Já faz algum tempo que insisto na tese de que a escola e seus processos precisam ser redescobertos. Veja bem, amigo leitor, não estou dizendo que precisam ser melhorados ou adaptados. Estou dizendo que a escola precisa ser reinventada. Adaptações já não cabem mais. O modelo exauriu. Portanto, é preciso repensar a escola com base em outros paradigmas, considerando os avanços da tecnologia, as mudanças sociais no âmbito das famílias, as necessidades inerentes ao novo mundo do trabalho e as questões de sustentabilidade socioambiental.
Mas, como isso ainda não se constitui realidade, vejo experiências, mundo afora, que promovem pontos de ruptura e quebra de paradigmas. E, como disse, três delas me chamaram atenção.
A primeira vem da Finlândia, a verdadeira “pátria educadora”. Como é de conhecimento geral, durante muitos anos a Finlândia liderou ou ficou entre os primeiros colocados no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), ranking que mede o desempenho de estudantes de 15 anos em 65 países. Na última edição, no entanto, a Finlândia perdeu espaço para países asiáticos e para as europeias Suíça, Holanda e Estônia no índice geral que mede o aprendizado dos alunos em matemática, leitura e ciências.
E qual a boa notícia, então? É que lá está previsto, para 2016, a implantação de um novo currículo, cujo foco está baseado nas competências transversais (genéricas) que devem ser trabalhadas por meio das disciplinas escolares. Serão sete áreas de competências transversais, desenvolvidas em conjunto com as disciplinas escolares. Trata-se, portanto, de uma nova maneira de combinar o ensino baseado em competências com aquele baseado nos conteúdos. Mais: as práticas colaborativas ganharão mais espaço em sala de aula, por meio das quais os alunos poderão trabalhar com vários professores, simultaneamente, durante o estudo de projetos baseados em fenômenos. Em resumo: mais contexto, mais aplicabilidade, mais trabalho em grupo e mais de um professor em sala de aula ou espaços de aprendizagem, mudando de fato o papel docente e contextualizando o aprendizado, segundo informações veiculadas pela imprensa.
A segunda boa nova vem de Barcelona, na Espanha. Escolas jesuítas da Cataluña deram início a um novo modelo de ensino, com a eliminação de conteúdos, testes e horários e a transformação dos espaços físicos das salas de aula. A justificativa é que, com o modelo atual, os estudantes sentem-se entediados e acabam por abandonar os cursos. O projeto leva o nome de Horizonte 2020 e, para implementá-lo, os jesuítas mudaram o formato das salas de aula, derrubando paredes e transformando-as em grandes espaços para o trabalho em equipe. No novo espaço estão sofás, carrinhos, muita luz, cores, tabelas organizadas para o trabalho em grupo e acesso a novas tecnologias.
E tem mais: nas três escolas que estão experimentando essa novidade, as turmas de 30 alunos foram agrupadas e formam turmas de 60 alunos, nas quais, em vez de um professor para cada 30 alunos, como anteriormente, estão presentes agora três professores para a turma de 60 alunos. Eles acompanham diariamente os estudantes e atuam como tutores nos projetos, por meio dos quais os alunos adquirem as habilidades básicas previstas no currículo. Nesse modelo, não há horários rígidos e os alunos têm liberdade para sair das salas quando se sentem cansados. As mudanças têm demonstrado bons resultados e, principalmente, motivado os alunos. Segundo os responsáveis pelas mudanças, é na escola onde mais se fala em trabalho em equipe e onde menos se pratica. E essa é uma situação que o projeto procura mudar, além de reduzir o volume de conteúdos, considerados excessivos. A premissa é de que os alunos aprendem muito melhor quando percebem a aplicação prática do que estão recebendo. Em síntese, a proposta do modelo é olhar para os rostos das crianças e ajudá-las a desenvolver seus projetos de vida, descobrir seus talentos, encontrar significado para o que fazem, o que querem atingir, ou seja, para interpretar, refletir, perguntar. Com a família e a internet, o propósito é “construir pessoas”. O projeto foi noticiado na plataforma News Republic.
A última notícia vem do Nordeste brasileiro. Uma faculdade particular resolveu promover uma mudança radical em seus espaços de uso comum, adotando um visual arrojado e bem adaptado. Segundo a própria instituição, oferece como “um de seus maiores diferenciais ambientes sempre muito bem decorados e que remetem a conceitos culturais e de mercado, dando ao aluno a sensação de estar sempre em um local diferente”. Esse novo ambiente é constituído de salão de jogos, lan house, espaços zen, music e games. Além de corredores temáticos e salas customizadas. Tudo para deixar o espaço ainda mais diferente e agradável. O visual se parece ao de um shopping center, o que me reporta a um artigo que escrevi em meados da década de 1990, quando propunha um novo modelo de escola, a que chamei na época, por razões óbvias, de Shopping Cultural.
Diante dessas experiências, sigo confiando que, em um futuro não muito distante, tenhamos um novo modelo de escola, mais compatível com nossos dias e as demandas de uma sociedade plugada e em constante processo de mudança.

Fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/marcelo-freitas/1307-patria-educadora-onde-mesmo
acessado em 21/10/2015

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