quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Gestor, de que forma você exerce o poder?

A natureza da relação de poder que estabelecemos influencia fortemente a manutenção ou o enfraquecimento desse poder. O grande desafio está em construir o meio termo, que estabelece uma relação de respeito, solidariedade e consideração, ao mesmo tempo que não abre mão de que determinações sejam cumpridas. Percebo nas escolas algumas distorções tradicionais. A primeira é quando a gestão estabelece um relacionamento extremamente amigável e, em nome dele, afrouxa as determinações. Outra distorção típica é a preponderância das determinações e um descuido nas relações, o que geralmente estabelece um péssimo clima relacional.
A necessidade de controle é um aspecto do conceito de poder que precisa ser clareado e alinhado. O controle de que falamos na escola é inerente ao processo de gestão. O gestor é o responsável pelo resultado final, logo deve ter clareza dos principais processos a serem controlados e saber em que momentos esse controle deve ser maior ou menor. Caso não haja por que controlar, não há necessidade de se estabelecer uma relação de poder. Relação de poder se faz necessária diante da necessidade de controlar algo. Fora desse contexto, ela corre o risco de se tornar caricata ou desgastada.
Uma questão que nos chama atenção está ligada ao tipo de poder que o gestor escolar utiliza. John Galbraith, sociólogo e economista canadense, classifica o poder em três tipos: condigno, compensatório e condicionado. Essa classificação segue a cronologia do surgimento dos instrumentos operacionais do poder, que tornam possível o exercício do poder. Segundo Galbraith (2006), o poder condigno é o poder mais antigo que o homem conhece. O instrumento operacional que lhe dá vida é a possibilidade de punição. Sem essa condição, não é possível exercê-lo. Tendemos a obedecer a alguém que tem o poder de nos punir; no entanto, o poder condigno termina com a possibilidade de punição. Existe um ditado popular que ilustra bem essa questão: “quando o gato sai, os ratos fazem a festa”.
O poder compensatório é o segundo tipo e, de acordo com o autor, ganhou força com a consolidação do modo de produção capitalista. É um poder que se consolidou com a força do dinheiro. O instrumento operacional desse tipo de poder é a possibilidade de realizar o desejo do outro. Uma vez que possamos propor uma troca (você faz o que mando e eu realizo seu desejo – dando-lhe dinheiro, por exemplo) que satisfaça a necessidade do outro, podemos exercer poder sobre ele. O poder compensatório se alimenta do patrimônio e da influência política.
O terceiro tipo de poder é o poder condicionado, que se fortaleceu com o avanço do conhecimento. O instrumento operacional desse poder é a intervenção na crença do outro. É o poder da mídia e das religiões, o qual se alimenta do conhecimento e da habilidade de influenciar. É o mais complexo de se exercer, pois exige habilidade de argumentação e convencimento. O poder condicionado é o mais apropriado ao ato educativo pelo fato de alterar a crença do outro. Os poderes condigno e compensatório têm baixo potencial de conscientização e alto potencial de realização, se bem empregados. São essenciais em momentos em que precisamos que as coisas sejam feitas de maneira rápida ou em que o poder condicionado não esteja funcionando.
O equilíbrio entre os três tipos de poder é a chave para uma liderança saudável. A ação do gestor deve ser focada no poder condicionado. O poder compensatório pode ser utilizado como recurso eventual e o poder condigno é o poder de última instância. Utilizar predominantemente os poderes condigno ou compensatório é correr o risco de estar estabelecendo uma gestão com baixo nível de conscientização, o que, infelizmente, é muito frequente.
Fonte: http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/julio-furtado/1359-gestor-de-que-forma-voce-exerce-o-poder
acessado em 11/02/2016

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