quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Formação docente em serviço

Preparar aulas, atividades e provas. Depois, ministrar as aulas e aplicar provas e atividades. Em meio a essa rotina, é preciso lidar com alunos indisciplinados e, muitas vezes, desinteressados. Na sequência, é hora de corrigir tudo isso e ainda buscar se capacitar para tornar-se um profissional melhor. Parece – e, muitas vezes, é – difícil, mas se trata do cotidiano que professor e escola (por meio de sua equipe gestora) devem buscar. Para facilitar esse processo, a formação continuada em serviço – ou seja, na própria escola em que se trabalha – surge como alternativa viável para os educadores.

Daniela Arai, gerente de Conteúdo do Instituto Ayrton Senna, acredita que as ações de formação continuada na escola tendem a ser mais eficazes que as realizadas fora do ambiente em que o professor trabalha. “Na faculdade, nos cursos de formação inicial, a gente tem uma visão muito teórica, mas no fundo a gente só vai obter conhecimento prático mesmo, de como funcionam as relações ensino-aprendizagem, relações aluno-professor, as questões disciplinares e comportamentais, na sala de aula. A gente entende, portanto, que essa formação continuada deve ser em serviço, deve ter como 
locus
 a escola, porque fora da escola essas relações e questões não surgirão”, explica a pesquisadora. Ela acredita que, no caso do Brasil, a capacitação em serviço é ainda mais essencial devido ao caráter excessivamente teórico dos cursos de licenciatura e de Pedagogia.
O pedagogo Cláudio Castro Sanches, coordenador do Instituto Aprender a Ser (especializado em formação continuada de educadores), defende a ideia de que essa capacitação é importante por causa da relação íntima do professor com a aprendizagem. “Isso deve ocorrer, fundamentalmente, por ser ele um mediador do conhecimento atualizado, ativo e crítico, o que está intrinsecamente relacionado à dialética entre o ensinar e o aprender, educar e educar-se, para ser um educador do tempo presente”, afirma Sanches, que é mestre e doutorando em Educação.
Um ponto em que ambos os especialistas concordam é que a formação continuada deve ser adaptada às necessidades e ao cotidiano dos professores. “O ato de educar é uma procura de sentido e de significados para o educador e para o aprendiz, portanto uma proposta para ações de formação continuada e em serviço inicia-se com uma investigação de significados resultante das ações educativas”, diz Sanches. Para o pedagogo, uma boa iniciativa se baseia em três tópicos: ação-reflexão-ação. Primeiro se observa o trabalho do professor; depois, há um período de reflexão sobre esse trabalho e, em seguida, ocorre a reformulação de teorias e práticas do educador. “O parâmetro de formação também será definido pelas reais condições de conhecimento e de saberes do grupo, a fim de que ocorra a concretização da superação da realidade diagnosticada”, complementa.
Para Daniela, a customização de iniciativas é o caminho correto para se ter uma formação em serviço eficiente. “A gente precisa, primeiro, fazer uma avaliação do que esses professores necessitam nesse momento da carreira, quais são as lacunas que eles enfrentam, quais são os contextos em que eles lecionam e, com base nisso, eleger os melhores formatos e os melhores conteúdos”, esclarece. Os dois especialistas destacam o importante papel do gestor e do coordenador pedagógico na organização e na esquematização das ações de formação continuada. “A escola tem que assumir seu papel de formadora. Os diretores e coordenadores precisam reservar um tempo para que essa formação aconteça, precisam abrir um espaço para diálogo, precisam garantir espaço na escola para que isso aconteça e ter um papel de mediadores e de coaches desses professores”, ressalta Daniela.
Sanches, por outro lado, divide as funções: o diretor deve ser o responsável por organizar e oferecer suporte necessário para a viabilização das iniciativas, além de avaliá-las. Já o coordenador pedagógico (em conjunto com o orientador educacional) deve orientar e conduzir as ações. “Toda escola deveria ter um trio gestor, ou seja, diretor, coordenador pedagógico e orientador educacional que, juntos, devem ser ‘uno e trino’, três pessoas/profissionais com ações diferentes, mas com um só objetivo: garantir a aprendizagem efetiva dos educandos”, resume o pedagogo.
Sanches também destaca a importância do projeto político-pedagógico (PPP) como instrumento necessário para regular e organizar as horas dos professores na escola – inclusive para reservar um período para a formação em serviço. Para o especialista, no entanto, o problema está nos órgãos regulamentadores, que desrespeitam o PPP em muitos casos. “O tempo da escola é o tempo previsto no projeto político-pedagógico e sua desorganização está relacionada às administrações que desconsideram a importância de uma boa organização e sua prioridade para um tranquilo e organizado ambiente voltado às aprendizagens de educadores e educandos”, critica.
Daniela vê na ausência de um bem-estruturado plano de carreira um grande obstáculo para os professores que buscam essa capacitação in loco. A pesquisadora acredita que, sem um plano de carreira, os professores não são incentivados a se capacitar, seja dentro ou fora do ambiente escolar. “O incentivo, em um mundo ideal, deveria estar atrelado a um plano de carreira. Hoje em dia, qual é o plano de carreira do professor? É você ficar mais velho, ter 5, 10, 15 anos de carreira. Você não tem novos desafios sendo propostos. Um plano de carreira que estabelecesse etapas e desafios ajudaria a gente a pensar num sistema de incentivos”, observa. Segundo Daniela, se o professor recebesse reconhecimento e/ou remuneração extra, conforme fosse se capacitando, iria buscar mais cursos e iniciativas, pois assim essas ações trariam algum benefício mais concreto para o profissional. “Podemos até pensar em alguns incentivos, mas seriam paliativos porque não existe um plano de carreira atrelado”, lamenta.

Fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/especiais/equipe-de-valor/1234-formacao-docente-em-servico
acessado em 15/10/2015

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